Daniela Soares*
Mais da metade das complicações hospitalares referentes à segurança do paciente podem ser evitadas se houver uma reestruturação organizacional dos procedimentos hospitalares, assistenciais e laboratoriais, é o que diz a nota técnica publicada em meados de setembro pelo grupo de pesquisadores da Rede CoVida. De acordo com a nota, aproximadamente 10% dos pacientes adultos internados sofrem ao menos uma complicação (evento adverso) durante o período de internação, sendo que mais da metade (51,2%) desses eventos poderiam ser evitados.
O documento espera contribuir para práticas seguras nesse momento pandêmico, em que a prevenção da transmissão do SARS-CoV-2 durante o cuidado assistencial deve ser a meta angular para a proteção de pacientes, profissionais de saúde e organizações.
De acordo com a pesquisadora Eliana Costa, pós-doutora em Enfermagem, a pandemia resultou em um grande número de pacientes infectados e os profissionais de saúde foram fortemente impactados, com um número expressivo de casos fatais. “Ainda não há tratamento medicamentoso específico ou uma vacina efetiva e segura para o SARS-CoV-2. Portanto, até o momento, a única medida efetiva de prevenção e controle é o distanciamento social”, ressalta a pesquisadora.
A nota diz que os problemas relacionados à segurança do paciente configuram-se como questão mundial de saúde e requerem mais atenção durante a pandemia. Segundo Eliana, “a OMS (Organização Mundial de Saúde) vem capitaneando para que países membros desenvolvam políticas sobre esse problema, pois, o coronavírus trouxe uma potencial desorganização das práticas assistenciais”.
A nota técnica é apresentada em duas partes e aborda recomendações publicadas durante o período da pandemia da covid-19 sobre procedimentos assistenciais, à luz da segurança do paciente. A primeira parte trata dos riscos à segurança do paciente, relacionados ao enfrentamento da pandemia nos sistemas e serviços de saúde. A segunda, traz recomendações para a realização de procedimentos assistenciais como, traqueostomia, procedimentos otorrinolaringológicos e transnasais, ventilação não invasiva, endoscopia gastrointestinal, procedimentos anestesiológicos, cirurgia laparoscópica e procedimentos para coleta e transfusão de sangue.
Segurança do paciente e dos trabalhadores de saúde
Um dos aspectos relevantes quanto a segurança do paciente é a possibilidade de falhas na etapa de diagnóstico da covid-19. De acordo com Eliana, “resultados falso-positivos ou falso-negativos ameaçam a saúde individual, mas também dificultam os esforços para conter a disseminação do vírus”.
A reorganização do processo de cuidado, descrito na nota, implica na necessidade de definição de uma estrutura de liderança para lidar com incidentes; adoção de protocolos de conservação de equipamentos de proteção individual; monitoramento da segurança dos trabalhadores de saúde; adoção de rotinas de triagem de pacientes, tanto para cirurgias como para atendimento ambulatorial, e reorganização de práticas educativas para prevenir exposições. A proposta visa fortalecer todo o sistema de saúde, avaliando a prontidão, coletando evidências, oferecendo treinamento, promovendo a segurança da equipe e reforçando o apoio entre seus membros.
A nota afirma que “a transmissão de infecção pode ser reduzida por meio de uma abordagem sistemática e integrada que avalia o risco de infecção segundo variáveis que incluem a história clínica, sintomas e exames laboratoriais”. Para isso, é recomendado que os serviços de saúde adotem medidas adequadas à sua realidade para reorganizar seus espaços físicos, processos e rotinas de trabalho.
Segundo Costa, as recomendações apresentadas devem ser consideradas de acordo com a situação de saúde de cada município e podem estar adequadas a momentos específicos da epidemia, flexibilizadas ou desnecessárias em outros.
O documento salienta que “todas as medidas devem envolver os usuários, pacientes e suas famílias, para que compreendam as razões e espectro de proteção”. Essas iniciativas objetivam a redução de danos por meio do gerenciamento proativo dos riscos para pacientes infectados, ou não infectados, pela covid-19.
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*Daniela Soares é jornalista e gastrônoma formada pela Universidade de Sorocaba (Uniso), graduanda em Filosofia pela Universidade Paulista (Unip).