Pesquisadores debatem sobre a agenda da pesquisa científica na Covid-19

Evento da Rede CoVida reuniu especialistas sobre o tema e abriu espaço para tirar as dúvidas do público

O novo ciclo de eventos da Rede CoVida, que busca promover um diálogo entre a população e especialistas sobre temas relevantes relacionados à pandemia, teve início na tarde desta quinta (12), para discutir aspectos epidemiológicos relacionados a Covid-19 e sua agenda de pesquisa.

Antes de convocar os convidados, os moderadores do evento ressaltaram duas importantes questões sobre o tema. Sinval Brandão, do Instituto Aggeu Magalhaes/Fiocruz Pernambuco destacou que a ocasião é propícia diante das perspectivas que se abrem nesse momento, com a estabilidade dos casos, e a diminuição no número de mortes. No entanto, Ligia Kerr, da Universidade Federal do Ceará (UFC), reiterou um aumento na curva de mortes e contágio por Covid-19, decorrente das últimas semanas. Fator que pode ser relacionado diante da taxa de somente 55% de adultos vacinados com a dose de reforço contra o vírus. “Essas taxas têm levantado questões e é necessário reforçar que a OMS detectou uma queda de 70% da testagem da Covid, e que diante da falta de testagem, fica mais difícil identificar as variantes atuais”.

Para adentrar ao debate e iniciar a roda de conversa, Gulnar Azevedo, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), começou sua apresentação destacando três aspectos que são fundamentais e que ficaram evidentes ao longo da pandemia. “O primeiro é que a população entendeu que o SUS existe. O segundo trata-se da importância da ciência, e, por fim, a importância da saúde pública, pois foi através da ciência junto com as medidas tradicionais e antigas da saúde pública, que fizeram uma grande diferença no enfrentamento da pandemia”.

Legado da pandemia

A pesquisadora fez uma reflexão sobre o legado da pandemia, comparando o impacto da Covid-19, com outros vírus como HIV/AIDS e Zika. “É necessário levar em consideração o legado de tudo o que passamos. O que houve com a pandemia de HIV/AIDS e a de Zika? Apesar de histórias e trajetórias diferentes, podemos explicar que, após a pandemia de AIDS, construímos um programa nacional de controle da doença, ao conseguir fazer um medicamento público e gratuito e investir em propagandas de prevenção. Já no surto de Zika, rapidamente criou-se uma rede de pesquisa nacional com participação de várias áreas que conseguiram dar uma resposta muito boa”.

E em relação à Covid, Gulnar acredita que o maior legado diz respeito a comunicação entre cientistas em todas as partes do mundo. “Durante esta pandemia, houve uma grande capacidade de cientistas se comunicarem com pessoas do Brasil e do mundo, para poder pensar sobre possíveis soluções. Isso tirou o pesquisador de seu setor e sala de pesquisa, rompendo com as barreiras geográficas, trazendo a inclusão das áreas humanas e integrando vários cientistas e suas diferentes experiências”. Ela também destacou que no Brasil há ainda obstáculos a serem superados como o financiamento muito baixo para pesquisa, a melhoraria dos nossos processos de avaliação e a troca interna entre pesquisadores brasileiros, para que o conhecimento produzido possa circular entre as instituições brasileiras.

Perguntas a serem pesquisadas

Dando seguimento as apresentações, Maria de Fátima de Albuquerque, do Instituto Aggeu Magalhaes (Fiocruz Pernambuco), relatou que o momento atual necessita de estruturação do que foi desestruturado ao longo da pandemia, mas que também é preciso avançar em alguns pontos de reflexão trazidos pelo período, entre eles estão, a necessidade financiamento emergencial, além de laboratórios com plataformas de pesquisa preparadas, fortalecer sistemas de vigilância, investir em vigilâncias genômica, capacitar novas técnicas de amostragem, incorporar novas tecnologias para pesquisa online e proporcionar mais proteção aos profissionais de saúde.

“Somamos a isso, a necessidade de pesquisar alguns pontos sobre a Covid-19, entre eles, a abordagem epidemiológica, o estudo das endemias locais, os padrões de risco associado ao desenvolvimento de Covid Longa, além do impacto da Covid Longa para o SUS e nos pacientes”, declarou Maria de Fátima.

Mais estrutura e comunicação

Antes de dar início ao debate com o público, a terceira convidada desta tarde, Margareth Portela, da Fiocruz, citou o exemplo de Manaus para ilustrar como é necessário o fortalecimento das estruturas, visando reduzir as desigualdades na distribuição de recursos no país. “Os únicos leitos do Amazonas estavam em Manaus, então, isso abre um alerta para o impacto que a falta de estrutura pode acarretar”. A pesquisadora também ressaltou outro desafio para os cientistas, que é o da comunicação com a sociedade. “Um aspecto importante que a Covid trouxe é o fato de que temos vivido um momento em que a imprensa e a sociedade queriam nos ouvir, e o fato de que nós, cientistas, não somos formados para falar com a imprensa e o público, o que ressalta a importância do nosso treinamento nesse sentido para melhorar nossa habilidade de se comunicar”.

Você pode conferir o evento na íntegra, clicando neste link.

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