Mitos e verdades: vacina contra o novo coronavírus

por Raquel Saraiva*

Dez meses após a OMS declarar a pandemia, muitos aspectos da Covid-19 ainda são desconhecidos. Com as vacinas não é diferente. Desde a divulgação dos primeiros resultados de testes clínicos da fase III, as expectativas se elevaram, assim como as dúvidas e os boatos sobre a imunização. Para separar o que é mito do que é verdade, a Rede CoVida ouviu especialistas sobre a regulação das vacinas contra o novo coronavírus. E como as especulações não param de surgir, essa matéria está em constante atualização**. Confira:

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Provavelmente as medidas comportamentais para evitar o contágio, como o uso da máscara, devem ser mantidas por algum tempo mesmo após a vacinação. Um dos motivos é que não será possível vacinar todos os 211 milhões de brasileiros de uma só vez. “Sabemos que isso não será factível, nem pelo número de vacinas que serão disponibilizadas nem pela capacidade de operacionalizar uma campanha num curto espaço de tempo para esse contingente populacional”, explica Carla Domingues, ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde (PNI/MS). Há outros motivos pelos quais a máscara não poderá ser abandonada, como o desconhecimento sobre a duração da imunidade após a vacinação e sua real efetividade, que na população pode ser diferente daquela obtida nos testes da fase III. Além disso, as vacinas que vêm sendo aprovadas são de duas doses. No caso da vacina da Pfizer, a proteção contra o coronavírus é alcançada 28 dias após o início da vacinação. Em artigo publicado na Forbes , o médico Mark Kortepeter, que esteve envolvido no combate a epidemias múltiplas, explica que o uso da máscara poderá ser reduzido apenas quando os níveis de circulação do vírus forem mínimos, “de modo que os profissionais de saúde pública possam atacar qualquer novo caso e interromper a disseminação da infecção”. E enfatiza: “Vai demorar um pouco para chegar a esse ponto”. Ou seja, mesmo com vacina, a máscara e o distanciamento continuam sendo a melhor forma de se proteger contra a Covid-19. MITO
Aparentemente, uma vacina que imuniza metade das pessoas que a recebe pode parecer pouco eficaz. Mas não é isso que pensam as autoridades de saúde no mundo, e o motivo é simples: em um contexto de pandemia, é melhor garantir alguma proteção que ter nenhuma. A Anvisa tem discutido essa possibilidade, segundo Gustavo Mendes, Gerente-Geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da agência. “É uma estratégia de saúde pública para impedir a circulação do vírus e criar imunidade de rebanho, 50% já é um grande avanço”. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora estadunidense, já determinaram que vacinas com pelo menos 50% de eficácia serão aprovadas. Isso pode significar que a outra metade das pessoas que receberam a vacina não vão desenvolver imunidade contra o vírus. Outra possibilidade é que elas desenvolvam algum tipo de proteção, reduzindo a severidade dos casos se houver contaminação. É isso o que acontece com a vacina contra o vírus Influenza: sua eficácia varia entre 20% e 60%, mas as pessoas que não ficam imunes desenvolvem casos menos graves de gripe, o que reduz o número de hospitalizações e de óbitos. Entretanto, o que vai ocorrer a longo prazo com a vacina só pode ser determinado com os estudos da fase IV, iniciados quando a população começar a ser imunizada. VERDADE
Não foi reportada nenhuma morte de voluntário das pesquisas que fosse relacionada aos estudos, como mostrou a Agência Lupa . Voluntários brasileiros estão sendo testados para a vacina desenvolvida pela Pfizer, pela Johnson & Johnson, Universidade de Oxford e pela empresa Sinovac Biotech. Nenhuma delas provocou efeito colateral grave ou morte. Em meados de outubro, um vídeo no qual um suposto enfermeiro denunciava que os laboratórios tinham como objetivo “assassinar” e “destruir o povo brasileiro” foi o grande responsável por inflamar os rumores. O boato voltou a circular após o presidente Jair Bolsonaro mentir sobre a morte de um voluntário no último dia 9, sugerindo que a vacina poderia ter induzido o suicídio. MITO
Tem-se discutido se a imunidade de rebanho pode ser atingida naturalmente, em uma população que teve um alto número de pessoas infectadas. Entretanto, a imunidade natural não é imunidade de rebanho, como explica Carla Domingues, ex-coordenadora do PNI/MS. A imunidade natural depende não apenas do número de infectados, mas também da dinâmica de transmissão da doença. “Um lugar vai ser completamente diferente do outro no esgotamento da população suscetível, diferentemente da imunidade coletiva!”, enfatiza. A imunidade de rebanho, por sua vez, depende da velocidade em que as pessoas são vacinadas, do número de pessoas que são imunizadas e da cobertura vacinal. “A imunidade natural gera pessoas doentes, casos graves, sequelas e óbitos, implicando também no aumento dos custos e esgotamento do serviço de saúde. Já a imunidade coletiva gera população protegida e evita o adoecimento daqueles que não foram vacinados”, ressalta a pesquisadora. VERDADE
“Estar vacinado, atingir a imunidade de rebanho e garantir a erradicação do vírus pode ser um processo longo. Eu não me atenho a prazos”, disse Reinaldo Guimarães, vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). Não se sabe precisar tempo para que a circulação do vírus diminua como resultado da imunização. Muitos fatores podem interferir no processo de encolhimento da circulação do vírus, como interrupção dos estudos, eventualidades nas condições de acesso e até imprevistos na fabricação das vacinas. Outro fator relevante é que apenas uma doença infecciosa já foi erradicada com vacina, a varíola. As outras são controladas, e voltam a circular com maior intensidade se a população não for imunizada corretamente, como vem acontecendo com o sarampo. Por isso, uma política de vacinação eficiente também é indispensável para atenuar a pandemia. Guimarães acredita que a vacina será a principal ferramenta nesse processo, mas alerta que ela sozinha não resolve todos os problemas “Colocar esperança é fundamental, mas essa esperança não deve ir além do que a vacina possa fazer”. MITO
O acesso da população à vacina requer regulação que envolve avaliação dos custos, dos riscos e benefícios da sua aplicação, recomendação para ser comprada pelo governo e incorporada ao SUS, liberação do registro da vacina, regulação de preço e até aprovação de orçamento para compra. Veja como ocorre esse processo: - As pesquisas que envolvem voluntários, como os estudos clínicos de desenvolvimento das vacinas, só são iniciadas após aprovação pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), que avalia os aspectos éticos desses testes. - A qualidade, segurança e eficácia das vacinas durante e após o término das pesquisas são avaliadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ela também avalia os pedidos de registro para comercialização. - As vacinas já registradas são analisadas pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) para ajudar nas decisões do Ministério da Saúde sobre a incorporação ou não do novo tratamento no SUS. - A regulação econômica é feita pelo Comitê Técnico Executivo (CMED), que estabelece limites de preços, estimula a concorrência no setor, monitora a comercialização e aplica penalidades às regras que são descumpridas. Também monitora as compras públicas. Será necessário negociar com o Ministério da Economia e com o Congresso Nacional um orçamento para a aquisição e implementação da vacina pelo SUS. O Ministério da Saúde coordena a imunização no país. Também é responsável pela produção ou compra e pela distribuição das vacinas utilizadas em todos os estados pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). A distribuição das vacinas para os municípios de cada estado é responsabilidade dos governos estaduais, e as prefeituras disponibilizam as vacinas nos postos de saúde. No mundo inteiro, órgãos da área de saúde e regulação vêm adaptando os procedimentos para dar maior agilidade ao registro da vacina. A OMS autorizou o desenvolvimento dos testes da fase I simultaneamente aos testes das fases II e III, que normalmente só iniciam quando o anterior é finalizado. Dentre outras adaptações, a Anvisa adotou a modificação e reduziu de um ano para 60 dias o prazo para dar anuência ou não a uma vacina. Ambos asseguram que isso não compromete as etapas de monitoramento de segurança e eficácia, como vigilância de eventos adversos, monitoramento de dados de segurança e acompanhamento de longo prazo. MITO
As vacinas de RNA não são capazes de integrar o material genético do vírus ao material genético dos seres humanos ou de outros animais. O único material genético que é manipulado com a vacina é o RNA do próprio vírus, que carrega o código genético para fabricação de proteínas do vírus. A molécula é inserida no organismo e as células humanas começam a produzir cópias de uma proteína, como a proteína spike, que forma os “espinhos” do vírus. É como se a vacina injetasse no nosso organismo uma manual para que o corpo possa fazer um tijolinho que só se encontra no vírus. Quando esse tijolinho, ou proteína, começar a ser produzido por nossas fábricas (as células), nosso controle de qualidade (o sistema imune) vai ligar um sinal de alerta e começar a construir anticorpos específicos para destruí-los. Assim, se o organismo futuramente entrar em contato com o vírus já terá as ferramentas específicas para destruí-lo, antes que ele se multiplique e cause a infecção. Essa mentira que circula no WhatsApp e nas redes sociais tem duas fontes. A primeira, uma entrevista compartilhada no canal de Spiro Skouras, um “pesquisador independente”, no Youtube, e que já foi deletada pela plataforma. Nela, Andrew Kaufman, um auto-intitulado “consultor de cura natural'', afirma que a vacina permitiria a entrada do material genético do vírus para transformar os humanos em “organismos geneticamente modificados”. A segunda fonte é uma mensagem atribuída ao advogado Robert F. Kennedy. Embora tenha feito declarações anti-vacina, o sobrinho do ex-presidente estadunidense John F. Kennedy negou através de sua assessoria que seja autor da mensagem. O texto traz outras inverdades, como negar que haja uma pandemia de Covid-19 e afirmar que existe tratamento preventivo contra a doença. As vacinas baseadas em RNA são uma novidade, a primeira a ser utilizada no mundo será contra o coronavírus. Pelo menos 20 grupos de pesquisa, incluindo a Moderna e a Pfizer, estão estudando utilizar instruções genéticas do DNA ou RNA do coronavírus para estimular uma resposta imune “Não se quer modificar o genoma humano através dessas vacinas. De jeito nenhum se conseguiria isso com essas vacinas e do jeito que serão aplicadas”, explicou Zárate-Bladés, pesquisador do Laboratório de Imunorregulação da UFSC, ao Aos Fatos . MITO
Quando é disponibilizada para a população, as vacinas continuam sendo testadas. A avaliação e o detalhamento dos efeitos da imunização a longo prazo são investigados após o produto ser disponibilizado para milhares de pessoas. Esta é a fase IV dos testes, conhecida como Farmacovigilância ou estudos de vida real. Um dos principais objetivos desses estudos é monitorar a segurança e a eficácia da vacina, identificando efeitos colaterais e fatores de risco relacionados que podem ser até então desconhecidos. “Nesta fase que a gente conhece efetivamente o perfil de proteção dessa vacina”, diz Carla Domingues, ex-coordenadora do PNI. Os resultados podem determinar posteriores alterações na recomendação da vacina, como ocorreu com a Dengvaxia, única vacina contra a dengue aprovada no Brasil. Cinco anos de monitoramento levaram a Anvisa a restringir o uso da Dengvaxia apenas para pessoas que já foram infectadas pelo vírus. Atualmente, o uso é contraindicado para quem nunca teve dengue. VERDADE
Por causa do risco de reinfecção, e devido aos perigos associados à Covid-19, pessoas que já tiveram a doença devem ser vacinadas. A maioria das pessoas infectadas desenvolve anticorpos e imunidade nas primeiras semanas após a infecção. Entretanto, ainda se investiga como é essa imunidade natural: o quão forte é essa proteção, quanto tempo ela dura e sua relação com a gravidade da doença. Para outros coronavírus, a resposta imune diminui com o tempo. Qualquer pessoa contaminada deve esperar o tempo de isolamento e/ou tratamento e, após estar curada da doença, pode ser vacinada. O Ministério da Saúde da Argentina orienta a vacinação para quem já teve a doença, se a pessoa fizer parte do público-alvo da campanha. O Centro para Prevenção e Doenças norte-americano (Centers for Disease Control and Prevention - CDC) ressalta que a reinfecção pelo vírus é incomum nos 90 dias após a infecção inicial. Por isso, pessoas que ficaram doentes recentemente podem atrasar a vacinação até o final desse período, se assim desejarem, diz o CDC. VERDADE
A lei de medidas emergenciais contra a pandemia provocada pelo novo coronavírus (Lei 13.979/20) prevê a possibilidade de vacinação obrigatória contra a doença. “A vacinação é estratégia de saúde pública com objetivo de impedir a circulação do vírus e criar imunidade de rebanho, não tratamento [contra a Covid-19]”, ressaltou Gustavo Mendes Lima Santos (GGMed- Anvisa). Por isso, ele argumenta que mesmo uma vacina com 50% de eficácia pode ser um grande avanço. Se a vacina não for obrigatória, pode ocorrer o que vem acontecendo com algumas doenças que podem ser prevenidas, mas continuam se espalhando e fazendo vítimas. No caso do sarampo, por exemplo, a imunidade de rebanho só é atingida quando 95% da população está imune. “Conseguir isso livraria o mundo de uma doença muito grave, para a qual 1 em 1.000 casos é fatal”, diz Julian Savulescu, filósofo e bioético da Universidade de Oxford. Em 2010, cientistas chegaram a considerar até 2020 a erradicação do sarampo alcançável. Não só não foi erradicada, como os casos da doença vêm aumentando desde 2016. “Realmente, as fake news, os grupos antivacinais e a própria excelência do programa (de imunizações) faziam com que não atingíssemos os níveis. E agora, na pandemia, baixamos aos níveis de 50%. Já naquela ocasião, eu me preocupava com a alta de patologias já erradicadas, como o sarampo, que estava voltando. Hoje já temos 23 estados com sarampo, estamos na iminência de voltarmos a ter poliomielite e temos um número muito baixo de vacinações pelo medo de se ir aos postos de saúde”, alertou o deputado Pedro Westphalen (PP-RS), coordenador da Frente Parlamentar do PNI, em entrevista à Agência Câmara de Notícias . O problema é que só na fase IV dos testes serão elucidadas questões como quanto da população deve ser imunizada para a imunidade de rebanho ser alcançada e a real segurança e eficácia da vacina. E isso só acontece após a vacinação na comunidade ser liberada. Um forte argumento para tornar qualquer vacinação obrigatória é se quatro condições forem atendidas, de acordo com Savulescu: (1) Existe uma grave ameaça à saúde pública; (2) A vacina é segura e eficaz; (3) A vacinação obrigatória tem um perfil de custo / benefício superior em comparação com outras alternativas e; (4) O nível de coerção é proporcional. O autor argumenta que a vacinação obrigatória pode ser justificada para evitar o esgotamento dos serviços de saúde, como esgotamento dos respiradores, ou no caso da proteção de crianças e outras pessoas que não podem decidir por si mesmas, e de outros adultos que também não podem ser vacinados por razões médicas. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem citado a lei (6.259/75), que criou o PNI, para afirmar que a vacinação contra Covid-19 não será obrigatória. Dois deputados do PSL de SP e uma do DF já apresentaram propostas de lei para impedir a obrigatoriedade da vacinação. No entanto, o Supremo Tribunal Federal decidiu no último 17 de dezembro que os estados podem obrigar a população a se vacinar contra a Covid-19. De acordo com a decisão, quem não se submeter à vacinação compulsória pode sofrer medidas restritivas previstas em lei, como multa, impedimento de frequentar determinados lugares e de fazer matrícula em escola. Também foi definido que os estados, o Distrito Federal e os municípios têm autonomia para realizar campanhas locais de vacinação. MITO
Muitas teorias da conspiração que envolvem as vacinas e a tecnologia 5G circulam no mundo, e ganharam impulso no Brasil após divulgação feita por Allan dos Santos, um apoiador do presidente Bolsonaro que está sendo investigado pelo STF no inquérito sobre fake news. Nenhuma vacina tem chips em sua composição, nem as aprovadas para a Covid-19 e outras doenças e nem as que estão em desenvolvimento, afirma Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM). Além disso, embora seja possível inserir chip no corpo humano, “não há a possibilidade de controlar pessoas por meio desses dispositivos até o momento”, assegura Fernando Hellmann, professor do departamento de saúde pública da UFSC. Ambos foram entrevistados pela agência Aos Fatos . Uma das versões dessas teorias afirma que a pandemia seria parte de uma estratégia de Bill Gates e outros membros da elite global para implantar chips de rastreamento que seriam ativados por 5G. Ele negou a teoria em entrevista concedida à CBS em julho de 2020. “Espero que isso desapareça conforme as pessoas conheçam os fatos”, disse. A Fundação Bill & Melinda Gates doou centenas de milhões de dólares para ajudar a financiar o desenvolvimento rápido de tratamentos e vacinas para o coronavírus. “A teoria da conspiração COVID / 5G é um produto da colisão de crenças conspiratórias de longa data sobre os supostos perigos do 5G para a saúde, bem como sobre vacinas, elites globais, China e outros alvos de suspeita bem estabelecidos, com a crise emergente de coronavírus”, afirmam os cientistas australianos Axel Bruns , Stephen Harrington , e Edward Hurcombe , que estudaram a dinâmica dessa mentira no Facebook . O 5G é um aperfeiçoamento da tecnologia de transmissão de dados 4G, já disponível no Brasil, e proporciona uma velocidade de download mais alta que a anterior. MITO
Essa é mais uma mentira que foi criada envolvendo as vacinas chinesas. Nenhuma vacina contém tecido de fetos abortados. Dizer que as vacinas contêm uma quantidade significativa de tecido fetal humano, como alguns opositores às vacinas afirmam, é enganoso, enfatizou o Dr. Paul Offit, diretor do centro de educação em vacinas do Hospital Infantil da Filadélfia."Talvez ainda haja nanogramas de fragmentos de DNA encontrados na vacina, talvez bilionésimos de um grama", disse ele em entrevista à ABC News . E afirma que descobriríamos a mesma quantidade se analisássemos as frutas e vegetais que comemos. Para a jornalista Monika Evstatieva , o primeiro ingrediente de uma boa conspiração é um elemento plausível. “Não é necessariamente verdade, apenas plausível”. Nesse caso, o elemento é o uso de células derivadas de aborto para produzir vacinas. Pelo menos cinco das vacinas em desenvolvimento contra a Covid usam linhagens de células humanas (HEK-293 e PER.C6 ). As células foram extraídas inicialmente de fetos humanos abortados em 1972 e 1985, respectivamente. Os abortos não foram realizados para produzir vacinas. Hoje, essas células são cultivadas e reproduzem-se em laboratórios e funcionam como pequenas fábricas de proteínas. A vantagem de se utilizar essas células é a maior probabilidade das proteínas serem consistentes com as proteínas que serão produzidas no corpo humano. Por isso, algumas vêm sendo aplicadas desde a década de 1960 no desenvolvimento de vacinas e em pesquisas contra diabetes, artrite e outras doenças. MITO
Pelas características da pandemia e pela demanda da vacina, serão definidos grupos de pessoas com maior risco de desenvolver complicações e de morrer por causa da doença, e elas serão vacinadas antes das outras. Na última terça (01) o Ministério da Saúde (MS) divulgou um plano preliminar de vacinação, que deve ocorrer em quatro etapas. Nele, ficou determinado que o Programa Nacional de Imunização (PNI) vai priorizar trabalhadores da saúde, população indígena, idosos que tenham 75 anos ou mais e idosos de 60 anos ou mais que vivem em asilos e instituições psiquiátricas. O segundo momento da vacinação deve imunizar pessoas com idade entre 60 e 74 anos. Na terceira fase entram pessoas com comorbidades que podem agravar um quadro de Covid-19, como portadores de doenças cardiovasculares e de doenças renais crônicas. A última etapa vai abranger professores, forças de segurança e salvamento, funcionários do sistema prisional e os presos. Ao todo, está previsto a utilização de 109,5 milhões de doses nesses quatro momentos da campanha, prevendo a utilização de vacina em duas doses. De acordo com o MS, o Brasil já possui garantidas 142,9 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 por meio dos acordos Fiocruz/AstraZeneca (100,4 milhões) e Covax Facility (42,5 milhões). “Uma articulação com a sociedade científica é importante para determinar os grupos prioritários, com base no perfil da vacina”, explica Carla Domingues, ex-coordenadora do PNI. Além do Ministério, integram a Câmara Técnica que vem elaborando o plano a Fiocruz, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Instituto Nacional de Controle e Qualidade em Saúde (INCQS), o Instituto Butantan, o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), sociedades médicas, conselhos federais da área da saúde, Médicos Sem Fronteiras e integrantes dos Conselhos Nacionais de Secretários Estaduais e Municipais de Saúde (Conass e Conasems) e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). VERDADE

Veja aqui o que já foi discutido sobre vacina em três webinários promovidos pela Rede CoVida:

 

 

 


*Raquel Saraiva – graduanda em Comunicação Social (UFBA), bióloga e mestra em Fisiologia (UFBA), editora do site de divulgação científica Bate-papo Com Netuno. Colabora voluntariamente para a Rede CoVida.

** última atualização: 14/01/2020

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