Estudos apontam a importância das medidas de distanciamento social para o controle da Covid-19

Por Adalton dos Anjos*

Como conter a rápida transmissão do novo coronavírus sem uma vacina ou medicamentos antivirais? Este tem sido um dos principais questionamentos de cientistas em todo o mundo diante da pandemia da Covid-19. O Grupo de Trabalho em Estratégias de Controle e Efeitos das Iniciativas de Contingência da Rede CoVida revisou cerca de 3 mil de artigos científicos e concluiu que as experiências internacionais mostram que as estratégias de distanciamento social devem ser fortalecidas no Brasil para controle da pandemia.

Segundo os pesquisadores da Rede CoVida, ainda é pequena a existência de estudos que se dediquem a uma avaliação dos impactos das medidas de distanciamento social. No entanto, a adoção desta forma de contenção da transmissão do coronavírus tem sido registrada em diversos países como na China, na Itália, na França e na Espanha, por exemplo, com resultados potencialmente promissores para conter a doença. Por isto, eles recomendam, a partir destes achados científicos, a sua implementação na realidade brasileira.

Em um dos estudos elaborados por pesquisadores do Imperial College London, intitulado “Impact of non-pharmaceutical interventions (NPIs) to reduce COVID-19 mortality and healthcare demand”, modelos matemáticos simularam o efeito de medidas de controle da epidemia de forma isolada e em conjunto no Reino Unido e EUA. Segundo os autores, a opção política preferencial indicada nas predições é a adoção de medidas drásticas de distanciamento social estendidas a toda a população – a depender da viabilidade de implementação e contextos sociais.

Outros estudos que acionaram registros de smartphones para compreender a mobilidade das pessoas em Wuhan, na China, demonstram que a redução da movimentação das pessoas pode ter contribuído para retardar o pico da epidemia e diminuição do número de casos. A redução das viagens na cidade chinesa e dos vôos também pode ter causado a diminuição do número de casos.

Qual o método ideal para distanciamento social?

Isolamento, quarentena, distanciamento social e lockdown ou contenção comunitária foram termos que invadiram o noticiário e passaram a fazer parte do vocabulário cotidiano da população. Os pesquisadores da Rede CoVida buscaram também explicar as características de cada uma destas medidas adotadas em diferentes momentos diante de cada realidade.

O isolamento se refere à separação das pessoas doentes daquelas não infectadas para reduzir os riscos de transmissão da doença. A quarentena, medida antiga de saúde pública, consiste na restrição do movimento de pessoas que podem ter sido expostas a uma doença, mas não estão doentes. Durante a quarentena, é necessário o monitoramento do indivíduo e, se os sintomas aparecerem, ele precisa ser isolado e tratado.

O distanciamento social envolve medidas que reduzem as interações em uma comunidade. Entre as medidas estão o fechamento de escolas e locais de trabalho, suspensão de alguns tipos de comércio e cancelamento de eventos para evitar aglomeração. No Brasil, esta tem sido a principal estratégia adotada por municípios como Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Fortaleza.

Já o lockdown ou contenção social é uma medida rigorosa aplicada em uma região que proíbe o indivíduo de sair de casa para reduzir o contato social e, consequentemente, diminuir drasticamente a interação de pessoas infectadas. Uma lei precisa ser aplicada na maioria das situações. Países como Itália, França e Espanha precisaram adotar este método para conter o avanço exponencial da doença, inclusive com a aplicação de multas para cidadãos que descumprissem a regra.

De acordo com os pesquisadores, medidas de redução de mobilidade são importantes para adiar o pico da epidemia e reduzir o número de casos e transmissão da doença. A restrição de viagens, a quarentena e o distanciamento reduz o tempo de duplicação e de casos no país. Já o distanciamento social reduz a demanda hospitalar e o número de óbitos.

O relatório completo do Grupo de Trabalho em Estratégias de Controle e Efeitos das Iniciativas de Contingência da Rede CoVida pode ser acessado aqui.

 

*Adalton dos Anjos é jornalista pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), relações públicas pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas da UFBA. Ele colabora voluntariamente para a Rede CoVida.

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