Por Egberto Siqueira
A “Rede CoVida – Ciência, Informação e Solidariedade” divulgou nesta sexta-feira (3) o primeiro Boletim CoVida – Acompanhamento da pandemia por Covid-19 no Brasil, com destaque à situação da doença na Bahia. Segundo o documento, o número de casos em todo o estado deverá ultrapassar os 800 até o dia 8 de abril.
Em todo o país, a estimativa é que o quantitativo chegue a mais de 21 mil casos e a mais de 500 mortes (caso a taxa de mortalidade no país se mantenha em níveis atuais) no mesmo período projetado.
O documento também traz sugestões para o enfrentamento, como o aumentos de leitos, respiradores, além de indicações de medidas como transferência de renda para a população mais vulnerável. O boletim será semanalmente disponibilizado no site da Rede CoVida (covid19br.org) e das instituições parceiras.
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Modelagem
Para predizer a quantidade de casos, a equipe de modelagem da Rede CoVida utiliza o modelo SIR (Suscetíveis, Infectados e Recuperados), considerado adequado para início de epidemias. Esse modelo sugere que todos de um grupo populacional começam não infectados (o que se adequa à realidade do SARS-CoV-2, por ser um vírus novo e as pessoas não têm anticorpos) e que cada grupo populacional tem um número de reprodução R0 (que é o potencial de reprodução da doença). É esse potencial que vai dizer com que velocidade um vírus se espalha em um grupo, considerando que a mobilidade de uma pessoa infectada contribua para a disseminação do vírus entre os não infectados. O potencial de reprodução da Itália, país que tem chamado à atenção pela intensidade da pandemia, é 3, por exemplo. Já o do Ceará é de 2,56, tornando-o o estado brasileiro com mais potencial de atingir mais rápido o pico da epidemia.
O relatório mostra que para as fases iniciais, como observado em diversos países e outras epidemias, os efeitos das restrições na circulação de pessoas não aparecem imediatamente, principalmente se tais medidas são aplicadas de maneira tardia. O efeito de “achatamento da curva” só é observável ao longo do tempo, seguida de aplicação de testes para rastrear novos infectados. Por isso, ainda há uma curva de crescimento que precisa de acompanhamento”, comenta a matemática Juliane Fonseca, pesquisadora na CoVida.
Para enfrentar o SARs-Cov-2 (Covid), a Rede convoca a utilizar a ciência para potencializar as medidas. “A modelagem matemática oferece uma janela de oportunidades para fazer previsões sobre o futuro da epidemia em nosso país, e permite que gestores executem as ações necessárias no presente para mitigar seus efeitos”, comenta o bioinformata (ramos que alia biologia e computação) Pablo Ramos, pesquisador na CoVida.
A Rede CoVida
O relatório é um dos produtos oferecidos à sociedade pela Rede que já conta com mais de 120 pesquisadores e 30 profissionais de comunicação que atuam de forma voluntária. O grupo atua em sistema home office e em pouco mais de duas semanas construiu um painel de acompanhamento, com dados atuais de casos confirmados no Brasil, por estado e município, além das análises preditivas para o país até o dia 25 de abril. O painel Coronavírus (covid19br.org) é fruto do trabalho da equipe de visualização de dados, coordenada pela estatística Gabriela Borges.
Para tornar público todo o conhecimento produzido pelos pesquisadores, uma equipe de profissionais da comunicação atuam para disseminar informações, construir materiais educativos, além da realização de conferências virtuais no formato webinar. No sábado, dia 28, as pesquisadoras da Rede Daiane Machado e Júlia Pescarini deram uma aula para jornalistas de conceitos básicos da epidemiologia. E o pesquisador da Fiocruz em Comunicação e Saúde, Igor Sacramento, falou sobre a abordagem do tema no jornalismo e nas redes. O material está disponível no Canal do YouTube.
A cooperação e a diversidade de saberes são os pilares da “Rede Covida – Ciência, Informação e Solidariedade”. Nascido de uma articulação entre o Centro de Integração de Dados e Conhecimento para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) e a Universidade Federal da Bahia (Ufba), a Rede é um projeto de colaboração científica e multidisciplinar focado na pandemia de Covid-19 e visa o monitoramento da pandemia no Brasil, com previsões de sua possível evolução. Visa também à produção de sínteses de evidências científicas tanto para apoiar a tomada de decisões pelas autoridades sanitárias quanto para informar o público em geral.